Os efeitos indesejáveis são mais frequentes com doses de 400 mg/dia, ou superiores, e em tratamentos prolongados.
Devido à sua longa semi-vida, tanto o efeito terapêutico como os efeitos indesejáveis podem permanecer durante um largo período de tempo (2 semanas a 1 mês) após a suspensão do fármaco.
Efeitos Oculares
Pode ocorrer deposição na córnea originando, ocasionalmente, perturbações visuais (anéis coloridos) que são reversíveis com a suspensão do tratamento.
Efeitos Dermatológicos
Fotossensibilização: deve evitar-se a exposição ao sol ou utilizar medidas de protecção solar durante o tratamento.
Foram detectados casos de eritemas no decorrer de radioterapia.
As pigmentações cutâneas, lilases ou acinzentadas são excepcionais e surgem com doses diárias elevadas prescritas durante longos períodos; após a suspensão do tratamento, o desaparecimento destas pigmentações é lento (10-24 meses).
Efeitos na Tiróide
Podem surgir alterações bioquímicas isoladas (aumento de T4 com T3 sérico normal ou ligeiramente reduzido). Se essas alterações não forem acompanhadas de qualquer indício clínico de disfunção da tiróide, não é necessário descontinuar o tratamento.
Hipotiroidismo: Os sintomas que indiciam hipotiroidismo são aumento de peso, letargia e bradicardia excessiva relativamente ao efeito esperado da amiodarona. A função da tiróide normaliza habitualmente dentro de 1 a 3 meses após a suspensão do tratamento. Em caso de situações potencialmente letais, o tratamento com amiodarona pode prosseguir em associação com L-tiroxina.
Hipertiroidismo: Pode ocorrer durante o tratamento e até vários meses após a descontinuação. Os indícios clínicos, habitualmente ligeiros, de hipertiroidismo incluem perda de peso, aparecimento de arritmia, angina, insuficiência cardíaca congestiva. O tratamento com amiodarona deve ser suspenso. A recuperação ocorre normalmente poucos meses após a suspensão do tratamento, precedendo a cura clínica e a normalização da função da tiróide.
Os casos graves, que podem por vezes resultar em morte, requerem uma implementação terapêutica de emergência.
Efeitos Pulmonares
A toxicidade pulmonar, potencialmente fatal, é o efeito adverso mais grave associado à terapêutica oral com a amiodarona. A pneumonite induzida pela amiodarona pode resultar de pneumonia intersticial pulmonar (ou alveolite) ou de pneumonite por hipersensibilidade.
Foram detectados casos de pneumopatia intersticial difusa. Deve ser efectuado um Raio X ao tórax em doentes que desenvolvam dispneia de esforço, isolada ou associada a qualquer alteração do estado geral (astenia, anorexia, náuseas, perda de peso, febre baixa, mialgia, miopatia), tosse (geralmente sem expectoração), dor no peito.
A pneumonite por hipersensibilidade pode ocorrer mais precocemente que a pneumonite intersticial. Não parece estar relacionada com a dose e pode ser caracterizada por um início agudo de sintomas (ex: febre). Se se desenvolver pneumonite por hipersensibilidade induzida pela amiodarona deve ser iniciada terapêutica com corticosteróides e interromper-se a administração de amiodarona.
Efeitos Neurológicos
Neuropatias periféricas sensitivo-motoras e/ou miopatias, geralmente reversíveis com a interrupção do tratamento.
Tremor extra-piramidal, ataxia de tipo cerebeloso, hipertensão intracraniana benigna excepcional, pesadelos, tonturas, parestesias, cefaleias, fadiga.
Efeitos Hepáticos
Pode ocorrer no início da terapêutica um aumento isolado nas transaminases séricas, geralmente moderado, regredindo com a redução da dose ou mesmo espontaneamente.
Hepatite aguda excepcional (alguns casos isolados) com hipertransaminasemia e/ou
icterícia.
Em tratamentos prolongados foram detectados casos isolados de hepatopatia crónica. Os sinais e sintomas de hepatoxicidade induzida pela amiodarona incluem: hepatomegália, ascite, dor abdominal, náuseas, vómitos, anorexia e perda de peso.
Efeitos Cardíacos
Bradicardia geralmente moderada e relacionada com a dose. Em certos casos (disfunção sinusal, doentes idosos), verificou-se bradicardia marcada ou, excepcionalmente, paragem sinusal.
Casos pouco frequentes de perturbações da condução (bloqueio sino-auricular, bloqueio aurículo-ventricular de distintos graus).
Raramente pode ocorrer insuficiência cardíaca congestiva, que geralmente não obriga à interrupção do tratamento.
Podem surgir edema, rubor e hipotensão.
Os efeitos arritmogénicos associados à amiodarona incluem progressão de taquicardia ventricular a fibrilhação ventricular, taquicardia ventricular sustentada, maior resistência à cardioversão, fibrilhação auricular, arritmia nodal e taquicardia ventricular atípica ("Torsades de Pointes").
Efeitos Gastrointestinais
Tais como náuseas, vómitos, sabor metálico, dispepsia, obstipação e anorexia, que habitualmente surgem com o tratamento de ataque e desaparecem com o tratamento de manutenção.
Pode também surgir pancreatite.
Efeitos Diversos
Podem surgir reacções semelhantes a reacções de hipersensibilidade: alteração renal com elevação moderada da creatinina, trombopenia, vasculite.
A amiodarona e o seu metabolito desetil-amiodarona parecem concentrar-se nos testículos em níveis superiores aos encontrados na maioria dos órgãos, causando sintomas idênticos aos da epididimite, incluindo dores no escroto e descoloração do sémen. Em alguns homens, a administração de amiodarona foi associada a alterações nas hormonas sexuais e a disfunção sexual.
Em relatórios de farmacovigilância pós-comercialização, foram registados casos de necrólise epidérmica tóxica, pancitopenia, neutropenia, angioedema e choque anafiláctico relacionados com a terapêutica com amiodarona.